sábado, 4 de junho de 2016

Outono e o suicídio das folhas

*Alerta de postagem "hippie"
Agora são 6 horas da manhã, quase 7, eu não dormi bem, eu desisti de tentar, e então peguei meu celular e comecei a digitar... 
A anos atrás, 5 talvez, não sou boa em datas, eu estava em situação parecida... Lá estava eu, sem dormir bem, tendo que acordar... Hora de ir para a escola... 


Eu sempre acordei na hora, na verdade bem antes dela... Mas eu não saia da cama... 
A realidade acordou mais cedo que eu, na verdade ela nem foi dormir, ela sentou do meu lado e esperou a noite toda para que eu acordasse e viesse me afogar nela, por isso eu tive pesadelos, porque é difícil dormir com alguém, ou então alho te observando...
Ninguém nunca me ensinou a lidar com isso, sabe, o desconforto... Com o medo... Com o desconhecido... No máximo me falaram o que fazer, me ditaram regras de sobrevivência e me tacaram no mundo... Eu não sabia o que fazer... Bem, sabia, mas não como, por isso eu ficava lá, esperando algo me jogar pra fora da cama, pra me fazer... Fazer algo... Para me fazer encarar a realidade... Ela não ficou ali me esperando a madrugada toda... É melhor eu ir... Não vou decepcionar mais ninguém... Ou algo...
Ok... Eu me levanto... Não quero ir... As vezes eu criava coragem de ficar, e então o relógio explodia e tudo ficava mais rápido, o que era para ser um descanso, uma fuga da realidade, se tornam segundos, um pequeno relaxamento... Mas que não facilita a tortura... Se eu fizesse isso todo dia eu ia repetir de ano... Se isso acontecer, eu vou ter que encarar tudo de novo... Não tem como fugir... Eu tenho que ir...
O ponto de ônibus é frio, ali sempre foi cinza, as pessoas tem outras pessoas na qual podem dividir alguma calor humano, eu sempre ficava longe, para não infecta-las com minha energia confusa e negativa... São adolescentes vivendo, tendo algo que na época eu não tinha experimentado, uma vida social... Escuto sussurros de meninas reclamando do quão gostam de um garoto, do quão seu ex-namorado é horrível, do quão tal garota é falsa, do quão aquele sapato é bonito... A diferença entre eu e elas é gritante... Elas usavam maquiagem boas, sapatilhas (algo que por causa do meu pé eu nunca pude usar), roupas que as cores combinam... Eu não sei de mim, nunca consegui me olhar bem... A realidade só me deixava ver a realidade de fora, a minha e a de dentro estavam uma bagunça, não podia olhar... Não dava...
Ninguém sentava do meu lado as vezes... Ou alguém aparecia e eu não olhava no rosto... Meus fones de ouvido na qual um lado estava sempre quebrado, um ouvido escutava algum rock pesado com letras depressivas, e no outro sussurros na qual não posso entender... De um lado uma fantasia obscura, de outro uma realidade ilegível por mim...
Cheguei... A escola... Tem apenas um portão, os adolescentes entram como bois adestrados, devagar, eu fico observando de longe... É hora de entrar...
A minha mente entra em estado de alerta, memorias me mostram que aquele lugar é bem mais do que conhecido, eu passei bem mais que momentos ruins lá dentro... Eu passei pesadelos reais ali... Mas eu tenho que entrar... Eu tenho que fazer...
A realidade encosta no portão, me olha e me espera... Todo mundo parece tão igual, sussurram as mesmas coisas, eles tem as mesmas preocupações e nenhuma delas é sobre morrer hoje, eles vão lá para viver mais um dia... Eu tenho que entrar... Tem pessoas esperando por mim... Estão esperando para me pôr no chão, para me fazerem me sentir como se tudo não valesse a pena... Eles estão lá... Todos eles estão em harmonia, são como notas de algum instrumento que eu nunca vou saber tocar, nunca vou saber ouvir... Eu sou a nota fora de tom, eles estão esperando para me moldar, para fazer eu sentir quantos tons eu estou fora... Eu tenho que entrar... Mas eu não vou...
Eu simplesmente dou meia volta, ando um tanto apressada no sentido oposto da multidão, no meio de ônibus, para longe, para o contra, sem olhar para os olhos de alguém... Eu toco minhas notas baixo, ninguém pode me ou ir aqui fora, ninguém pode me notar... Eu não faço parte da orquestra, eu não faço parte do show, eu não vou me apresentar hoje... Não hoje... E provavelmente amanhã também não...
Eu passo no centro, é muito cedo para algo estar aberto, está completamente vazio, as vitrines já começam a fazer seu trabalho de tentar chamar atenção, mas eu não olho através, mas sim para minha imagem distorcida, meu reflexo claro, quase sumindo, uma garota covarde com medo de ser diferente... Eu não sei quem eu sou, o reflexo não diz quase nada...
Gosto do barulho do vento, gosto das primeiras cores do céu, como os primeiros raios do sol trazem alguma cor para o cinza... De repente eu estou bem, toda tensão se vai... A realidade sumiu... Eu estou sozinha...
É bom estar sozinha quando se tem apenas inimigos, quando todo mundo não quer estar do seu lado, ninguém por perto é bom, você não precisa de outra pessoa para existir, você apenas existi, você pensa, você existi
Eu sento em uma praça, aonde a decoração nunca me parece natural, mas naquela época era melhor que hoje, eu observo as folhas caírem silenciosamente no chão, elas se desprendem dos galhos, e caem... Elas se suicidam... Elas fazem isso... A arvore é a sociedade, as folhas são as pessoas... As folhas secas estão morrendo porque não sobreviveram, porque as folhas mais fortes sugaram todo o açúcar da arvore, porque o doce da arvore não daria para todos, mas algumas folhas querem bilhar mais, então algumas folhas secam e caem... Silenciosamente, porque a morte irrita, a morte assusta, ela não deve incomodar os vivos... Elas caem... Eu cai, eu me desprendi, essa é minha queda, eu estou longe deles, porque eu cai, eu estou no chão... É lindo não é? O como todos esses cadáveres em tons laranja ficam no chão, o quão o vento os carrega para longe da arvore, você pode ouvir as folhas batendo, o som delas agonizando... O vendo me trouxe aqui, para perto das folhas secas... Para perto dos meus semelhantes... Eu olho em volta, enquanto o vento bagunça meu cabelo quebrado... para onde o vendo vai me levar no futuro? Para onde vai levar meu cadáver? Que seja para longe da arvore...

...

5 ANOS DEPOIS EU AINDA ESTOU AQUI, MAS QUE MERDA!
...

Alias, em que estação nós estamos?

Um comentário:

  1. Cecy, não vi nada de Hippie nisso... Vi uma obscuridade, e meio uma sensação desconhecida.... Diferente esse teu lado. <>

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