Ela havia perdido
parte de seu braço, era claro, e a imagem assusta de início, acho que qualquer
ser humano fica ao menos um pouco chocado quando vê outro ser humano com alguma
parte do corpo faltando. Eu me acostumei com a forma dela, mas a coisa que mais
me chocou foi ela em si, foi como ela estava tão natural com aquela situação.
Nos primeiros
momentos meus olhos escorregavam para seu braço, e eu no segundo seguinte
puxava meus olhos de volta a estar contra os olhos dela, me questionando amargamente
se eu havia a magoado, com um simples olhar, eu não queria que ela se sentisse
diferente de mim, como se eu a tivesse a vendo como apenas um braço amputado, ou aparentasse ter algum sentimento de
rejeição por ela, pois não, eu não sentia isso, mas a curiosidade e o choque faziam
meus olhos irem naquela direção, eu queria perguntar sobre aquilo, mas sabia
que uma simples pergunta poderia faze-la sentir como se eu estivesse invadindo
um espaço, que eu não sei o quão sensível é.
Foi quando no nada
ela disse “não vai perguntar sobre o
braço?”, eu creio que sorri naquela hora, ao menos mostrei os dentes de um
modo nervoso, e fiquei sem resposta, o que deveria responder? Eu não sei o quão
delicado é isso, eu não faço ideia o que é passar por isso, e logo o como ela
deve se sentir sobre isso.
Ela fez uma expressão
estranha e disse “você notou, não notou?”,
logico que eu notei, filha... pensei eu... “em
um acidente, eu perdi...” disse ela...
Essa não era a
resposta que a pergunta em minha mente estava fazendo, pois obviamente ela
perdeu em algum acidente ou incidente, minha pergunta era outra, era o depois, o como, o que... e tudo que saiu
de mim, e eu tentando ser delicada, mas eu tenho consciência que sou delicada
feito um camelo com sede, foi “mas você
se sente bem?”
Tive que reformular a
pergunta umas 4 vezes, até ela entender o quão profundo eu queria chegar, e ela
sorriu para mim e disse “não tenho o que
sentir, já passou, já chorei, já entrei em depressão, mas o que posso fazer?
Não dá para voltar atrás, eu não posso sofrer por isso para sempre, tenho que prosseguir”..
E eu fiquei pensando nisso por quase um mês sem parar...
Eu tenho um problema com
finais, sabe, ainda mais com o fato de que a coisa acabou e eu tenho que prosseguir,
e seguir, e aceitar que acabou, aquela coisa de virar a página... não... espera,
deixa eu reformular essa explicação, pois quando se vira a página, você não vê
as páginas de traz, você virou ela, a coisa é como se... Você derrubasse tinta
em um livro, fosse obrigada a virar as páginas e as próximas páginas estão
manchadas com a tinta passada, que cada vez mais seca, cada vez mais eterna na historia, como se agora fizesse parte dela... Entende?
O braço dela... Prosseguir!?
O acidente sempre vai
estar ali, o acontecimento está no passado, não dá para voltar, mas a marca
dele está ali, uma enorme cicatriz que levou embora uma parte física e
emocional dela, toda vez que ela olhar para ela mesma, vai estar lá, o
acidente, o resultado de um acidente.
Pedaços do emocional
de alguém também se vão, ela não pode ser a mesma menina do dia antes do acidente,
as coisas nunca são a mesma depois do dia da perda, você tem que prosseguir,
não é? Lidar com isso, e logo amadurecer, e nisso parte da inocência se vai,
dia após dia.
A gente perde muita
coisa por dia e nem percebe, a gente perde horas, dias, minutos, e nem vê, por
isso é tão fácil, mas a gente percebe isso quando a conta chega e vê que não dá
para voltar atrás
Como eu encostada num
canto olhando para meu celular esperado alguém notar meu sofrimento por esse alguém
ali, são meses e meses, eu poderia estar ganhando, mas estou perdendo, aos
poucos uma cicatriz vai surgindo, e quando ela estiver visível nada vai apagar...
...
E cara, ela perdeu o
braço, e não foi aos poucos, foi de uma vez só, se coloca na situação, você
está ali, sentado olhando para a janela, não esperando acontecer nada de mais,
apenas perdida em pensamentos enquanto seus olhos fingem acompanhar cada arvore
que parece correr lá fora, e em questão se segundos você está coberto do próprio
sangue, e quando começar a calcular o que acabou de acontecer, você percebe que
uma parte do seu corpo já não faz parte do seu corpo.
A partir daí é outra história,
são os dias depois do acidente, os dias depois da perda, os dias depois do
trauma, ter que se acostumar aos poucos, ser obrigado a lidar com um trauma.
Tem coisa que a gente
meio que escolhe perder, nós no colocamos na posição de que simplesmente virar
as páginas sem olhar cada palavra, a dor final é uma consequência. Mas como
conviver com algo que não é sua culpa? Você não esperava... Como conviver com
uma consequência cuja a causa não é culpa de ninguém?
Mas você tem que
continuar, sempre tem a escolha mais fácil, desistir, a depressão ronda nossas
mentes diariamente, esperando uma brecha no meio da nossa própria escuridão, e
ela é longa e profunda, feito uma areia movediça, que você jura que não tem
fim, mas lá no fundo, tem um buraco, a morte.
Mas você tem que
continuar, tem que se dar uma chance de respirar, porque é só uma, você tem que
puxar e soltar ar, perder lágrimas e desenhar um rastro até você, enquanto foge
vulnerável dos olhares dos estranhos pelo mundo.
Mas como continuar? A
gente vai perder de novo, vai acontecer, aos poucos, ou talvez sejamos vítimas
de alguma fatalidade, ora essa, as chances existem para todo mundo.
Não sei o que vai
acontecer amanhã, comigo, com ela, com você, eu sei o quão bosta eu lido com as
perdas, e se eu perder mais? O mundo é tão inseguro, tão imprevisível, não
existe limites para a perda... Oh sim, a morte...
Mas vai acontecer,
enquanto estamos lutando para conquistar, enquanto nos debatemos no mundo
lutando contra coisas aleatórias, enquanto suamos para construir coisas,
estamos perdendo
E ai um dia... Você
não vai poder perder mais nada, porque perdeu tudo.
E será que depois de perder tudo, nós ainda vamos ter capacidade de sorrir e recomeçar?
(acho que ela nunca vai entender o porque de eu começar a chorar umas duas horas depois da gente mudar de assunto, minha cabeça as vezes trava em assuntos... admiro a força dela)
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